História

O MASOQUISMO NA HISTÓRIA


            O conceito do masoquismo como um desvio sexual em que o prazer está ligado ao sofrimento ou à humilhação ampliou-se bastante depois de Freud e da psicanálise. O masoquismo é reconhecido em inúmeras condutas sexuais e na sexualidade infantil. Por extensão, significa igualmente a busca do sofrimento e das perversões. Esse sentimento é mais ou menos consciente e leva o indivíduo a procurar uma situação de vítima sem que elementos sexuais necessariamente entrem no jogo.

            Parece que a relação – a primeira vista contraditória – que existe entre a dor e o prazer já foi mencionada pelos escritores antigos. Conta-se que Salomão, na velhice, pedia às mulheres que o picassem para excitar sua virilidade enfraquecida. Com a mesma finalidade, Serosas, um irmão de Herodes, mandava que suas escravas o acorrentassem e lhe batessem. Sócrates, em suas relações conjugais, teria demonstrado tendências masoquistas. Descrito como masoquista por alguns sexólogos, Aristóteles, em certas imagens, é representado de quatro, levando no lombo uma mulher de chicote.

            Sabe-se que as cortesãs da Antiguidade ofereciam a Deusa Vênus ex-votos compreendendo chicotes, rédeas e esporas. No Satiricon, de Petrônio, uma personagem apanha com folhas de urtiga, para estimular sua virilidade. Cenas masoquistas foram encontradas em baixos relevos do século XII. Tarmelão, o conquistador mongólico, sentia prazer em ser chicoteado por suas mulheres; Henrique III, rei da França, fazia-se flagelar publicamente por suas amantes.

Trecho de SATIRICON - de Petônio

            Desde o século XVI, o papel da flagelação na excitação sexual é descrito com muita freqüência. Em meados do século XVII, surge uma monografia de Meibonius dedicada a esse assunto: De Usis Flagrorum In Re Venera (Do Uso dos Flagelos nos Prazeres do Amor).

            O masoquismo amoroso pode ter-se tornado costume; segundo um viajante inglês do século XVIII, em Constantinopla, um oficial que quisesse dar provas de seu amor passava sob o balcão da amada com uma flecha atravessada no braço.

            Muitas mulheres masoquistas sentem-se atraídas por um homem cuja reputação – de criminoso, por exemplo – as leva a crer que serão maltratadas. Sabe-se que o cadáver de Gilles de Rais, decapitado pelo carrasco, foi seqüestrado por senhoras da boa sociedade.

            Lembrando-se das punições recebidas da Srta. Lambercier, encarregada de sua educação, Jean-Jacques Rousseau relata em suas Confissões:

“O mais estranho é que esse castigo me ligava ainda mais àquela que me castigava, Só a legitimidade dessa afeição e toda a minha doçura natural podiam me impedir de buscar a repetição do mesmo tratamento, fazendo por merecê-lo; pois eu encontrava na dor, na vergonha, um misto de sensualidade que me despertava mais desejo do que medo de voltar a recebe-la. É verdade que, como em tudo isso havia, naturalmente, algum instinto precoce do sexo, o mesmo castigo infligido por seu irmão, de modo algum me pareceu agradável”.


            Rousseau confessava que esse castigo decidiu seu gosto, seus desejos e suas paixões para o resto da vida. Quando via uma jovem bonita, ele a devorava com um olhar ardente e sua imaginação a transformava numa nova Srta. Lambercier. Seu ideal amoroso pode ser resumido numa frase:

“Estar de joelhos perante uma amante imperiosa, obedecer as suas ordens, ter desculpas a lhe pedir, era para mim um grande prazer”.


            Quando estudante, o poeta inglês Swinburne freqüentava em Elton a sala destinada aos corretivos corporais; depois de adulto, passou a visitar assiduamente as casas especializadas em flagelação.

            Encontra-se a estranha associação amor-dor nas obras de numerosos autores. “O amor é dor por natureza”, diz o poeta persa Rumi. “A dor é a companheira da voluptuosidade, da vida”, escreve Nietzsche, estabelecendo desse modo um dos pólos de sua filosofia. Musset descreveu muito bem os elementos masoquistas que interferem nos sentimentos de seus heróis, nos quais se nota uma submissão total ao ser amado. Zola apresenta um tipo de amor masoquista em seu romance Nana. Numa suas novelas, Oscar Wilde conta como uma florentina, que enganava o marido, repentinamente volta a ele ao saber que matara a amante: “Não sabia que você era tão forte”, diz ela amorosamente. 


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